POR QUE AS CRIANÇAS BRIGAM?

Por que as crianças brigam?

As crianças estão brincando juntas, até que acontece – uma pega o brinquedo da outra, todas querem ser o mesmo personagem no faz-de-conta, alguém é excluído do grupo e o conflito é instaurado. Nesse momento, o professor deve ter bem claro o modo como quer resolver o impasse: ele se intromete, dá uma bronca e exige desculpas ou deixa que as crianças resolvam suas diferenças por conta própria?

Por que as crianças brigam?

Crianças não usam a violência física por maldade, mas sim porque ainda estão aprendendo a se expressar de outras formas (foto: The Intelligent Nest)
Crianças não usam a violência física por maldade, mas sim porque ainda estão aprendendo a se expressar de outras formas (foto: The Intelligent Nest)

Para tomar essa decisão, é preciso entender por que as crianças brigam. Será que elas simplesmente são agressivas, mimadas ou egoístas? É claro que não – elas estão, porém, passando por uma etapa crítica do desenvolvimento social, abandonando aos poucos o autocentrismo (quando ainda não conseguem se colocar no lugar do outro ou compreender outros pontos de vista que não o delas mesmas).

A escola tem um papel essencial nesse crescimento, oferecendo o primeiro ambiente em que os pequenos precisam dividir… Absolutamente tudo. A atenção, o afeto, o espaço, os brinquedos, que, em casa, estão sempre à disposição, agora são comunitários. E isso não é uma mudança fácil de se aceitar. Dessa adaptação, surgem os momentos de agressividade.

Leia mais: Habilidades socioemocionais são mais importantes que notas altas.

Primeiro, porque as crianças querem testar sua autoridade, seu poder. Dar ordens aos colegas, aos irmãos menores e outras crianças é uma forma de testar seus limites e descobrir o quanto suas vontades valem. Conflitos ocorrem quando duas ou mais crianças estão tentando definir seus limites e impor suas opiniões.

Em seguida, vem o fato de que, na Primeira Infância, a linguagem e seus significados ainda estão sendo construídos. Ou seja, empurrar, morder ou bater não são sinais de maldade, mas sim de que a criança ainda não aprendeu outras formas de resolução de problemas. O mesmo vale para choros e acessos de raiva (que vão continuar ocorrendo, caso ela perceba que surtem efeito).

Essas são razões perfeitamente normais e saudáveis para brigas infantis, que fazem parte do processo de desenvolvimento de empatia e da compreensão de regras sociais.  Existem, contudo, sinais que o professor pode observar quando a violência é excessiva.

O que causa problemas socioemocionais?

Nenhuma criança vai atravessar a infância sem pequenos conflitos que a ajudam a crescer. Mas, quando as agressões se tornam muito frequentes, pode haver algo errado (foto: Stanford)
Nenhuma criança vai atravessar a infância sem pequenos conflitos que a ajudam a crescer. Mas, quando as agressões se tornam muito frequentes, pode haver algo errado (foto: Stanford)

Sempre é indicado manter um olhar atento para perceber comportamentos fora do normal. Pesquisas mostram que entre 5 e 10% das crianças enfrentam dificuldades crônicas de relacionamento com seus pares, dentre elas a rejeição ou hostilização. Se não houver intervenção, elas podem causar queda no desempenho acadêmico, problemas de adaptação na adolescência, evasão escolar e mesmo uma probabilidade mais altas de envolvimento com drogas ilícitas ou criminalidade. A saúde é prejudicada: problemas socioemocionais precoces estão relacionados a doenças como depressão e ansiedade.

Identificar crianças que estejam enfrentando dificuldades de relacionamento exige um olhar apurado não só para o comportamento que ela apresenta na escola, mas para suas relações familiares e socioeconômicas, sua saúde, seus potenciais e dificuldades intelectuais.

  • Comportamento: quando momentos de agressividade foram muito frequentes, algo pode estar errado. Crianças muito isoladas ou extremamente tímidas também devem ser acompanhadas. Isso porque as falhas na comunicação fazem com que elas sejam mais facilmente excluídas pelos colegas.
  • Saúde: para crianças com deficiências físicas, intelectuais ou emocionais, relacionar-se com o resto da turma é um desafio.
  • Família: as crianças aprendem com os comportamentos que vivenciam. Como os pais ou parentes resolvem conflitos em casa? Como é o ambiente em que ela vive? Será que ela se sente segura? Procure saber quais são os hábitos da criança em casa – exposição a filmes, vídeos e jogos violentos, por exemplo não são indicados na Primeira Infância (quando ainda não se faz distinção do real e do fictício) e podem trazer à tona comportamentos agressivos.
  • Situação econômica: a situação econômica precária pode influenciar o desenvolvimento da criança, que necessita de um ambiente seguro e acolhedor. Novamente, a sensação de segurança é fundamental, mas também a nutrição, a higiene e o bem-estar.

Prevenir e intervir

Ao invés de resolver o problema e punir as crianças, o professor precisa de tempo para fazer perguntas, conversar e orientá-las para que consigam encontrar uma solução (foto: High Scope)
Ao invés de resolver o problema e punir as crianças, o professor precisa de tempo para fazer perguntas, conversar e orientá-las para que consigam encontrar uma solução (foto: High Scope)

Há duas formas de trabalhar as habilidades de socialização das crianças: através da prevenção e da intervenção. Elas vão se desenrolar ao mesmo tempo, ou seja, não são excludentes.

A prevenção diz respeito a promover as competências necessárias para a solução de conflitos através de brincadeiras, atividades lúdicas e de grupo, antes que um desentendimento aconteça. É quando as crianças aprendem, sob supervisão e com situações planejadas, a reconhecer sentimentos, a dividir, a ceder ou insistir.

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Já a intervenção, por outro lado, vai ocorrer quando crianças ou grupos em particular estiverem com problemas de relacionamento. Nesses casos, são abordados os comportamentos específicos daqueles alunos em uma conversa (sempre privadas, não em frente ao resto da turma ou de maneira que possa humilhá-los). O professor pode sugerir alternativas, apresentar estratégias para lidar com as emoções, fazer perguntas para entender as origens do problema ou convidar a família para que ajam em conjunto.

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A psicóloga Fernanda Furia, fundadora do Playground Inovação, em Florianópolis, acredita que envolver as crianças no debate seja uma alternativa saudável. Por meio de questionamentos, o professor pode levantar temas de discussão, mas é importante deixar que elas se expressem e expliquem o que causou a mágoa ou irritação. Essas opiniões podem inclusive ser o ponto de partida para projetos com toda a turma

Dicas para cultivar o bom relacionamento na rotina

Ser constante faz toda a diferença – de nada adianta uma longa palestra sobre tratar bem os colegas se, durante o resto da aula, o professor se exalta ou permite os comportamentos que havia desencorajado. Quando uma regra é dada, ela precisa ser cumprida por todos (inclusive os adultos)!

  • Seja o exemplo: pais, professores e familiares devem exibir o comportamento que querem que as crianças repitam. Caso as crianças sejam ensinadas a não dizer palavrões, não gritar ou não agredir fisicamente o colega, os adultos precisam fazer o mesmo.
  • Estabeleça regras com a turma: pergunte o que as crianças acham que deveria se tornar uma regra de convivência e o porquê. Explique também as regras que você está impondo, para que todos entendam sua necessidade.Você pode dar uma olhadinha nesse atividade para se inspirar!
  • Trabalhe o vocabulário: ajude-as a perceber as emoções dos colegas usando descrições como “Ele está chorando porque está triste” ou “ela está franzindo o rosto porque está irritada”. Também faça perguntas para que as crianças tentem colocar em palavras o que sentem. Pergunte “por que você fez isso?”, “como você se sentiu?” e “o que gostaria que seu colega tivesse feito?”.
  • Ofereça escolhas: principalmente para as crianças menores, é importante dizer de que maneiras elas podem agir dando instruções claras. Com um ou dois anos, elas ainda não conseguem separar emoções e costumam ser levados por suas próprias cenas de raiva ou choro. Diga: “você chorou e isso não fez o Lucas devolver o brinquedo. Você pode se acalmar e dividir o brinquedo ou pode escolher outra coisa para fazer”. Isso as ajuda a parar, recuperar a calma e superar o problema.
  • Não resolva tudo sozinho: ao invés disso, oriente as crianças para que elas mesmas encontrem soluções para seu conflitos. Quando elas acharem uma resposta, ofereça elogios e reconhecimento pelo bom comportamento.
Não é somente a agressão física que pode prejudicar o desenvolvimento saudável: preste atenção na palavras (foto: Huffington Post)
Não é somente a agressão física que pode prejudicar o desenvolvimento saudável: preste atenção nas palavras (foto: Huffington Post)
  • Saiba que palavras podem ser tão ruins quanto agressões físicas: adultos tendem a se mobilizar mais quando duas crianças brigam fisicamente do que quando o conflito é verbal. Isso é um erro – frequentemente, excluir alguém do grupo, dar apelidos ou fazer comentários humilhantes é mais prejudicial ao desenvolvimento da criança, e tem um efeito direto na autoestima. Não dispense essas ocorrências como “coisa de menina”, o que normaliza a atitude negativa.
  • Organize os espaços para incentivar atividades em equipe: repare se a sala de aula permite que as crianças trabalhem juntas. Escolha brinquedos e jogos que envolvam cooperação e diálogo.
  • Mantenha a calma: lembre-se de que nem toda briga é o fim do mundo. Não exagere. As crianças vão reagir de acordo com a reação dos adultos; ou seja, se você transformar um pequeno conflito em algo feio, grave ou perigoso, é assim que elas vão encará-lo. Reflita sobre a gravidade da situação e deixe que pequenos incidentes sejam logo esquecidos.

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