Enquanto descasca as batatas, refoga o feijão e tempera a carne para o almoço, uma mãe consegue ajudar os filhos a fazer os deveres de casa, atender ao telefone e organizar os compromissos da semana – às vezes ao preço de ter o arroz um pouco queimado. Pais conseguem fazer milagres com o tempo para atender às demandas do trabalho e da família. Adultos memorizam um número de telefone que alguém acabou de lhes dizer até encontrarem caneta e papel para anotá-lo. E são perfeitamente capazes de respirar fundo – em vez de buzinar ou esbravejar – quando o sinal abre, mas o carro da frente demora para arrancar. Nossas capacidades de executar muitas tarefas ao mesmo tempo, de ter auto-controle, de seguir instruções envolvendo várias etapas – mesmo se somos interrompidos – e de manter o foco no que estamos fazendo – apesar das distrações – são o que sustenta o comportamento deliberado, intencional e objetivo necessário para o dia-a-dia e para ter êxito no trabalho.
Precisamos dessas habilidades básicas em todas as áreas de nossas vidas. Sem elas, não conseguiríamos tomar decisões, resolver problemas complexos, desempenhar tarefas entediantes, fazer planos e ajustá-los quando preciso, reconhecer e corrigir erros, controlar nossos impulsos, estabelecer objetivos nem monitorar nosso progresso até conseguirmos alcançá-los – embora realizar tais coisas não dependa exclusivamente de habilidades cognitivas. No nosso cérebro, as funções executivas são, em grande medida, responsáveis por essas habilidades. As funções executivas têm três dimensões básicas, que não são inteiramente distintas, mas trabalham juntas:
Memória de trabalho (ou de curto prazo) – é a capacidade de armazenar e processar informações por curtos períodos de tempo.
Controle inibitório – é a habilidade de controlar e filtrar nossos pensamentos e impulsos para que possamos resistir a distrações e tentações. Auxilia-nos também a parar e pensar antes de agir.
Flexibilidade cognitiva – é a capacidade que nos permite aplicar regras diferentes em contextos diferentes, observar as coisas sob novas perspectivas, perceber erros e corrigi-los.
Embora muitas vezes pensemos que as crianças são como “mini adultos”, elas ainda não têm essas habilidades desenvolvidas. Portanto, não podemos exigir delas o auto-controle, o foco, a atenção e a memória de adultos. Podemos, contudo, ajudá-las a desenvolverem essas habilidades. Assim evitaremos problemas em seu desenvolvimento e futuras dificuldades de aprendizagem. Mas como fazê-lo?
Na primeira infância, as interações sociais (com adultos e outras crianças) ajudam os bebês a concentrar a atenção, a robustecer a memória de trabalho e a reagir a experiências estimulantes. Para crianças com mais de 1 ano e meio de idade, as brincadeiras e os jogos desempenham um papel importante: brincando, elas aprendem a esperar por sua vez, a planejar, a aguardar o melhor momento para agir, a resolver problemas, além de exercitarem o armazenamento de informações por períodos curtos. A estimulação verbal, sempre recomendada no blog Como Educar seus Filhos, também tem papel fundamental durante a infância.
Compartilharemos uma série de artigos com algumas dicas de atividades organizadas por faixa etária que, se praticadas com regularidade, poderão ajudar seu filho a desenvolver as habilidades aqui mencionadas. Começaremos hoje indicando atividades para bebês de 6 a 18 meses.
1 – Esconde-esconde
Quem nunca brincou de esconder e revelar seu rosto a um bebezinho? Esse tipo de brincadeira exercita a memória de trabalho, porque desafia o bebê a lembrar quem está se escondendo. Depois de realizada repetidas vezes, a brincadeira também auxilia a desenvolver habilidades básicas de auto-controle, uma vez que exige que o bebê espere até o adulto se revelar. Ela pode ser bastante útil dos 6 aos 10 meses, quando é comum os bebês sofrerem de ansiedade de separação.
Comece escondendo seu rosto com as mãos e aguardando alguns instantes; depois apareça e curta a reação do bebê. Você também pode se esconder atrás de um pano ou móvel e deixar um braço de fora para servir de pista.
2 – Escondendo um brinquedo
Escolha o brinquedo de que o bebê mais gosta e mostre a ele. Depois, esconda-o sob um pano ou almofada, certificando-se de que o bebê esteja prestando atenção ao que você faz. Incentive-o a puxar o pano e descobrir o objeto. Quando a brincadeira ficar muito fácil, esconda o brinquedo em outro lugar, mais distante, e chame-o para “descobrir o esconderijo”.
3 – Jogo dos copinhos
Esta variante do jogo das tampinhas também exercita a memória de trabalho. Vire três ou quatro copos de boca para baixo e esconda uma bolinha colorida sob um deles. Troque lentamente os copos de lugar, arrastando-os sobre a mesa e depois convide o bebê a procurar a bolinha escondida.
4 – Sons do ambiente
Esta atividade é um treinamento para a memória de curto prazo, além de um exercício simples e eficaz de escuta e concentração.
5 – Jogos de imitação
Os bebês adoram imitar os adultos, especialmente a partir dos 12 meses. Aproveite essa empolgação para envolver seu filho em jogos de imitação que demandam atenção, auto-controle e trabalham a memória de trabalho.
A estrutura desses jogos é simples: você realiza um gesto, emite um som ou faz uma determinada expressão facial e então incentiva seu filho a imitá-lo. Você pode, por exemplo, fazer uma careta, imitar o canto de um pássaro, erguer os braços, balançar a cabeça ou empilhar alguns blocos. Para que o bebê o imite ele terá primeiro de observá-lo, guardar na memória o gesto, som ou expressão, lembrar-se dele, esperar pela sua vez e só então tentar imitar o que você fez.
À medida que o bebê for crescendo, aumente a dificuldade da atividade. Faça seqüências de gestos e peça para ele reproduzi-las. Brinque também de seqüência de sons.
6 – Macaco disse, O mestre mandou e Carneirinho, Carneirão
Brincadeiras como “Macaco disse”, “O mestre mandou” e “Carneirinho, Carneirão” também são bons exercícios de imitação para crianças a partir de 1 ano. Se outras crianças participarem, melhor ainda!
7 – Pequenas tarefas domésticas
Ainda aproveitando a vontade de imitar os adultos, incentive seu filho – com mais de 1 ano de idade – a ajudá-lo com tarefas domésticas simples como limpar a mesa do cadeirão com um pano ou guardar os brinquedos na caixa. Executar tais tarefas pressupõe a resposta a um comando verbal armazenado pela memória de trabalho e exige auto-controle e atenção seletiva, já que a criança terá de manter a atividade na mente e cumpri-la, evitando as distrações que surgirem e inibindo o impulso de fazer outras coisas.
8 – Conversas
Uma simples conversa com o bebê é uma maneira de exercitar a atenção, a memória de trabalho e o auto-controle do pequeno. Mantenha contato visual e fale com ele: nomeie objetos ao seu redor, narre o que você está fazendo (“agora eu vou trocar a sua fralda”) e dirija perguntas breves ao bebê, lembrando-se de fazer pequenas pausas para que ele “responda” à conversa à sua maneira: com gestos, olhares, risos ou balbucios.
9 – Leitura em voz alta
Leia com freqüência parlendas, poesias e histórias rimadas. Além de serem de fácil memorização, os textos ritmados e ricos em repetições e rimas são capazes de prender a atenção dos pequenos e mantê-los concentrados na escuta.